Saindo da região de Lazio para a região da Campania, a região do meu avô, para a cidade que eu mais queria ir, a que traz recordações alegres e outras tristes.A cidade do porto mais famoso no passaporte da família, a cidade das máfias italianas,a do lixo.A grande Napoli.
Ela é o ponto mais perto de Montesano Sulla Marcellana que eu já havia chegado até aquele dia, fui lá para saber como chegava na cidade do meu avô,o moço do Ponto de Informações turísticas, me disse que a cidade dele era muito,muito,muito, longe para chegar que era difícil, era na Auto Strada para Reggio Calabria, e a cidade era quase nela.E eu disse tudo bem, não acreditei pois não é isso tudo que ele me disse,porque a Região da Reggio Calabria é bem mais longe , "bem no bico da bota" mas enfim agradeci peguei meu mapa e fui me aventurar,quando eu desci do trem já tinha sentido um certo "medo",Napoli é como o Rio de Janeiro, eu nunca fui ao Rio, mas você sabe que deve ficar com os olhos abertos e atenta.
O povo de Napoli é mais acolhedor do que em Roma,mas eu estava com receio o bastante para não me comunicar muito, fui caminhando e escondendo o mapa para não ser presa fácil,a praça principal estava em reforma ,uma bagunça, ao atravessar as ruas os motoristas aceleravam em cima dos pedestres, um caos, seguindo em uma rua de lojas e feiras no meio da rua,o povo brigando,o povo com cara de malandro, o povo bravo, o povo doido, o povo desorganizado, o motorista acelerando para cortar caminho em cima da calçada por que tinha pressa, o povo da banda tocando samba, sim samba do Brasil,pelo menos foi o que o cara gritou em meio as vielas.E caminhando me deparo com um mercadão de peixe no meio da rua.Eu estava com calor não queria tirar a blusa para não deixar minha bolsa a mostra,eu tinha medo, dos becos sujos e cheirando a peixe, meu preconceito estava grande,como aqui eu escrevo, e como estão percebendo.
Mas eu queria conhecer-la, o porto a cidade,os lixos, os lugares.Dentro da igreja me senti segura tirei a blusa, me refresquei,mas coloquei a de volta e fui caminhando escondendo a maquina e fotografando escondida.
A cidade é bem largada , diferentemente das outras cidades italianas que eu conheci,ela é famosa pelos seus lixos espalhados nas ruas, mas não estava tanto assim como antigamente, o povo já não ligam muito para a elegância em se vestir, eram mais despojados,mocinhos nos carros "pagando de playboy" as moças nas ruas mandando eles a " merda" por terem mexidos com elas.
Enfim, gostei bastante de Napoli, apesar do meu medo todo, fiquei feliz em chegar ao Porto Turístico,onde meu avô foi pela última vez em território italiano, em busca de trabalho no Brasil, é um momento de alegria pois se não fosse ele, eu não estaria aqui escrevendo minha paixão pela Itália, mas também de tristeza por ele ter deixado toda a sua família e seus país sem saber se algum dia iria voltar, como não voltou e da sua geração(filhos e netos) eu fui a única até agora que retornou.
Fiz um lanche rapidinho enquanto observava a movimentação toda no Porto, estava quente e eu não tirava minha blusa,memorizei o mapa até os pontos seguintes e fui ao Castel Dell´Uovo, muito bonito,fica a beira mar tem uma vista linda. Napoli também é famosa pelo seu Vulcão o Vesúvio, lindo eu conheci de longe, não tinha pensado em ir até ele, não dormiria em Napoli,foi burrice pois poderia ter ido conhecer-lo e também Pompéia sua cidade vizinha, com as ruínas mais antigas e famosas da Itália.
Eu não me perdia da trajetória que eu fazia no mapa, sempre nas ruas certas, algumas não tinham nada parecia que eu estava em São Paulo muito trânsito,muita gente,adentrei no meio da cidade,estava cansada eu andava muito e descansava pouco.Ficou vários lugares para eu conhecer mas não sabia quanto tempo eu levaria para chegar até a estação de trem, então comecei a ir até ela.
Napoli é diferente de outras cidades italianas como eu já disse, mas é bonita,tem um aspecto mais marginalizada, por causa das pixações em monumentos e nas casas, o chão é bem preto por causa da poluição dos carros, e também pelos lixos jogados nele.O trânsito é mais maluco e motoristas mais doidos , pense num cara que estava numa moto dessas enormes com seu filho de 3 anos sentado no guidão, acelerando em meio a tantos carros, doidera!
A pizza de Napoli, a tão famosa em todo mundo eu comi na Galeria Humberto,eu pensei que seria uma pizza pequena quando eu pedi,mas não! É o tamanho de uma pizza para duas ou mais pessoas aqui no Brasil, tive que deixar uns pedaços,Triste!
Minhas pernas estavam exaustas, e eu também, não demorou muito já estava na estação pegando o trem direto a Roma.
Os moços napoletanos são uma graça,mais espontâneos e gentis,culpa da malemolência napoletana.
No trem ,estiquei me as pernas relaxei , ainda bem que ninguém sentou em nenhum dos 3 lugares disponíveis, por isso aproveitei a folga.Mas não demorou muito um Senhor(bem velho) sentou em frente ao lado dos meus pés, aí acabou minha folga , sentei como pessoa comportada.Aí ele resolveu conversar, perguntava de tudo, reclamava também, resolveu então querer saber da minha vida, não sei se já disse mais os italianos mais velhos são sem vergonhas, não todos mas não podem ver mulher sozinha sabe? resolveu peguntar se eu tinha namorado, menti é claro disse que ele me esperava em Roma,o Senhor achava que eu era italiana nata,indagou e disse se tivesse namorado não estaria viajando sozinha, mulher que tem namorado tem que sair com ele , um machismo tremendo, fiquei olhando para ele com vontade de mandar para outro lugar,Graças a Deus ele saiu na estação seguinte.Quando cheguei em casa entrei na internet e ví um texto do Leonardo Sakamoto sobre esse tema,segue o Link, não sei se foi coincidência mas o "Sakamoto saka tudo" até quando estamos fora do Brasil.
Passado meu momento de reflexão pós machismo do velho Senhor,o vagão começou a lotar a maioria de negros, mas a meu lado sentou um outro Senhor e uma moça ambos italianos, conversa vai conversa vem entre eles, eu observava a janela o por do sol as paisagens fotografava, passei a maior parte do tempo fazendo isso, aí começaram a comunicar- se comigo pela curiosidade por eu fotografar tanto, expliquei que gostava e só.... aí o Senhor resolveu contar sobre a vida dele e escutamos, meu idioma já estava bem desenrolado,e o bilheteiro resolveu aparecer novamente validar as passagens a minha já estava okay,a moça que estava sentada a minha frente deu uma de "joão sem braço" dizendo que a máquina de convalidar estava quebrada e não havia feito isso por este problema, o Senhor ao meu lado ajudou na mentira, mas não adiantou o choro a moça levou a multa e ficou furiosa pela situação disse que iria recorrer e tals, mas como eu já disse convalidar o bilhete é necessário e seguro para evitar despesas extras.
Algumas passagens você pode comprar hoje e são válidas por 3 meses ou mais, e se você não convalidar pode viajar quando quiser mas se o bilheteiro pegar, azar o teu.
Faltava algumas estações ainda para chegar em Roma,e voltando as minhas fotos para os minutos finais do pôr do sol ainda o fotografava, o Senhor ao meu lado não aguentou e ironizou que minhas fotos não sairiam boas por foram feitas de frente a luz,comentei que no Brasil vivo fazendo isso e para mim não era problema.Ele me olhou com uma cara de espanto e perguntou:Você é brasileira?E por que não é "escura" ? Mais uma vez no mesmo trem eu pensei :pronto, encrenca de novo um machista e um racista.Respondi perguntando qual era o problema das pessoas serem negras e se os italianos que emigraram para o Brasil eram negros?( no vagão tinham muitos negros que olhavam a situação) já era a hora do Senhor desembarcar ele saiu sem responder e ficou por isso mesmo.
Eu também nesse dia estava meio preconceituosa pelo choque de cultura entre Roma e Napoli, mas guardava somente a mim até contar aqui para vocês, mas é duro lidar com italianos duro na queda em mudar o modo de pensar em relação ao machismo e racismo,mas se convive com eles, ainda bem que nem todos são mas você detecta fácil quando são.
Mas Napoli é linda ,vale a pena ir conhecê-la, se eu for para Itália novamente eu visitarei com menos medo, menos preconceito, e sem blusa se estiver calor denovo...na maoria das vezes sou realista em contar sobre certas coisas que vivo e faço,não fantasio muito para não criar expectativas de contos de fadas em quem me escuta. Napoli a cidade dos portos me fez crescer,desafiar os medos que tinha dentro de mim, apesar da paura(medo) toda que estava quando cheguei nela, eu a enfrentei,a conheci e me encantei.
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